23 abril 2007

Refinaria Ipiranga e Juan Ganzo - Outra reportagem

Juan Ganzo Fernandez de terno branco a esquerda e Juan Carlos Ganzo Fernandez, quarto a direita (terno cinza).

Mais uma reportagem sobre a venda da Ipiranga! O nome de Juan Ganzo Fernandez é mais uma vez lembrado. O único lamento é o fazerem após 50 anos de sua morte!





Luis Nassif: A saga da Ipiranga

Luís Nassif / Gazeta de Ribeirão
A saga da Ipiranga
Vendida na semana passada para a Petrobrás, Brasken e Ultra, a Ipiranga é a própria história do setor petrolífero brasileiro. Foi a primeira refinaria a operar comercialmente no Brasil, em Uruguaiana, abastecida por petróleo cru da Argentina.
Em 1933, o pecuarista brasileiro João Francisco Tellechea, junto com Eustáquio Ormazabal, comerciante e pecuarista argentino naturalizado brasileiro, mais os argentinos Raul Aguiar e Manuel Morales, e Varela, grande advogado argentino, decidiram criar uma pequena empresa de derivados de petróleo, a Destilaria Rio-Grandense de Petróleo. Começou a operar em 26 de novembro de 1934, com produção de cerca de 400 barris/dia.
O transporte de matéria prima era desafio parecido com o de Aníbal, o Cartaginês, para chegar a Roma. Os navios-tanque, com petróleo cru, contornavam o sul do continente, atracavam no porto de Buenos Aires, de onde o petróleo ia de trem até a argentina Paso de los Libres, cruzava o rio Uruguai em uma chata-tanque e era desembarcado direto na Destilaria.
A Destilaria tinha pouco mais de um ano de vida quando, em 1936, o governo Perón proibiu a reexportação de petróleo a partir do território do país. Fixava um prazo de doze meses para interromper definitivamente o fluxo.
Um segundo grupo de empresários do cone sul –os uruguaios
Juan Ganzo Fernandez, Numa Pesquera, Luiz Julio Supervielle e os brasileiros Her Ribeiro Mattos e Oscar Germano Pedreira – tinham planos para uma segunda destilaria, em Santana do Livramento, na fronteira com Uruguai, de onde contavam trazer o petróleo cru.
Percebendo as dificuldades, os dois grupos decidiram unir esforços. A solução encontrada foi juntar os capitais e construir uma nova unidade, na cidade do Rio Grande, para armazenar 80 mil barris de petróleo cru. Em 6 de agosto de 1936 nascia a Ipiranga S.A. Companhia Brasileira de Petróleos. O custo da refinaria era de 12 milhões de dólares. O capital foi dividido em partes iguais entre os brasileiros, os argentinos e os uruguaios.
A criação do Conselho Nacional de Petróleo, pelo Decreto-Lei n° 395, de 29 de abril de 1938, interrompeu os planos. O setor foi nacionalizado, obrigando os acionistas estrangeiros a venderem sua parte. O advogado Varela representava na Argentina o escritório de Eduardo Americano , onde trabalhava o jovem advogado João Pedro Gouvêa Vieira. Por indicação de Varela, João Pedro foi incumbido de fazer a petição para o presidente do CNP, solicitando que não aplicasse efeito retroativo à lei.
Fartos do Brasil, os argentinos ofereceram a João Pedro sua parte no negócio. A entrada seriam os honorários devidos. O restante seria pago em dez anos.
À medida que a Ipiranga foi crescendo, para subscrever os aumentos de capital João Pedro foi vendendo parte de suas ações a Francisco Martins Bastos, grande amigo e engenheiro responsável pela montagem da Ipiranga.
Nos anos 30, a Ipiranga foi fruto de uma fantástica visão modernizadora, de grupos familiares juntando seus capitais. Em 2007 foi vítima do anacronismo, de não ter sabido como estabelecer uma governança que colocasse a empresa a salvo das disputas familiares.
Refinarias 1
Quando houve a montagem das primeiras refinarias brasileiras, em 1945, o líder da Ipiranga, João Pedro Gouvêa Vieira, foi pressionado pelo coronel João Carlos Barreto, diretor do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) a se transformar em uma espécie de testa-de-ferro da Golf Petróleo, petrolífera americano que tentava enfrentar o domínio da Standard Oil no Brasil. Barreto substituíra o coronel Horta Barbosa no CNP.
Refinarias 2
Na licitação promovida pelo CNP, o critério utilizado foi o das relações pessoais e políticas. Embora sem tradição na área, e sem capitais, foram beneficiados os grupos Soares Sampaio e Peixoto de Castro. Depois de obtidas as concessões, eles trataram de ir atrás de sócios que dispusessem de capital e de conhecimento. Apesar de pioneira, a Ipiranga se considerou prejudicada pelas regras de concessão.
Refinarias 3
A refinaria precisava produzir quatro produtos básicos para colocar no mercado, mas a legislação os obrigava a colocar quantidades iguais de gasolina, diesel, óleo querosene e óleo combustível. Havia dificuldade na colocação do óleo combustível, devido a problemas de armazenamento, o que dificultava a colocação dos demais subprodutos. Esse era um dos fatores que inviabiliza um refino brasileiro.
Refinarias 4
Mas o principal problema era a concorrência com os importados. A defesa do setor era uma lei que proibia as companhias estrangeiras de importar produtos de petróleo produzidos internamente. Mas ela nunca havia sido aplicada. Quando o coronel Barreto perguntou a João Pedro o que poderia viabilizar as refinarias, ele indicou a lei. O governo Vargas passou a aplicar, então, a lei, viabilizando as companhias.
Refinarias 5
O grande apoio que o Brasil teve para o sucesso da lei foi o trabalho persistente do embaixador americano Adolfo Berle Jr que passaria injustamente para a história como golpista. Especialista em direito econômico, percebera o mal que a concentração produzia, além de ter testemunhado os estragos que as sete irmãs petrolíferas fizeram em outros países latino-americanos, especialmente na Venezuela.
Refinarias 6
Coube a Berle Jr rebater o formidável poder da Standard Oil. Sua atuação só veio a público nos anos 90, quando o historiador Stanley Hilton divulgou as correspondência diplomáticas e a extraordinária atuação de Adolfo Berle Jr em favor do Brasil. Ele fazia parte dos homens de Roosevelt, que ajudaram na implantação da New Deal, o programa de recuperação econômica americana dos anos 30.



Blog: www.luisnassif.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

ME AGRADO MUCHO LA REFERENCIA QUE HAN HECHO SOBRE LA REFINERIA.LE OFRESCO MI RESPETO Y MIS FELICITACIONES POR EL BLOG ,EL CUAL ME PARECE INTERESANTE.ME AGRADO MUCHO QUE HAYAN NOMBRADO A DON NUMA PESQUERA Y A ABELITO QUE TUVE OPORTUNIDAD DE CONOCER.SEGUN ME CUENTAN LA OBRA DE LA REFINERIA FUE MUY IMPORTANTE.LES DEJO MI CORDIAL SALUDO HERNAN PESQUERA